Cristovam Buarque O Brasil descobriu, finalmente, o problema da educação. O que, até dois anos atrás, era uma “nota só” de um político está aos poucos se transformando na nota principal de todos. É uma boa notícia, e um enorme desafio: como sair do vício do abandono ou mesmo da aversão para a prioridade à educação, quando o próprio conceito de educação está em mutação.
Com os novos avanços, tanto científicos sobre o cérebro como tecnológicos sobre a teleinformática, os velhos sistemas de pedagogia entraram em crise. Antes que cirurgias neuroinformacionais sejam capazes de implantar chips de conhecimento no cérebro, será preciso mudar a escola e o principal desafio é inventar o professor das primeiras décadas do século XXI. Até aqui, qualquer que fosse o método, o professor com um pedaço de giz era o instrumento de transmissão de conhecimento.
Com ou sem a participação construtiva do aluno, o conhecimento era transportado na cabeça do professor e armazenado estaticamente nas prateleiras das bibliotecas. Daqui para frente, isso não é mais verdade: um oceano de conhecimento está no ar.
O professor continua presente, mas não necessariamente ao vivo; está por trás de todo o processo e todo equipamento utilizado. Para esse mundo novo, o professor terá que ser inventado, como o auxiliar da antena, orientador educacional, tutor do aluno-surfista no oceano do conhecimento. Seu papel será produzir saber e orientar o aluno para evitar que se perca no excesso de informações, fazê-lo ser capaz de adquirir sólida formação. Ajudar os alunos a conhecer, entender, deslumbrar-se, indignar-se e querer transformar o mundo ao redor, convivendo com ele e suas pessoas, com fortes conceitos e nenhum preconceito. Isso vai exigir a invenção do professor, assim chamada enquanto outra palavra não surgir. Países como a Finlândia, Coréia e aqueles que já chegaram educados ao final do século XX devem conseguir essa evolução.
O Brasil e outros países que abandonaram a educação aos níveis do final do século XIX vão ter de fazer uma revolução, ou ficarão definitivamente para trás, com apenas a minoria rica indo estudar em cidades estrangeiras, em outros países ou em condomínios superfechados, dentro do território geográfico do país, mas em outro mundo cultural. A saída está em começar imediatamente a construção de novos professores, com uma Carreira Nacional do Magistério que ofereça excelentes salários aos jovens que passarem em duros concursos, sabendo usar todos os equipamentos modernos, para ensinar em escolas bem construídas, bem equipadas, onde trabalharão em dedicação exclusiva, com tempo para estudos e reciclagem, sem necessidade de greves, sem o velho costume da falsa-aula, e com total liberdade pedagógica e metas a cumprir.
Contratando 100 mil desses novos professores, poderemos incorporar 3 milhões de novos alunos por ano. Enquanto isso, os demais alunos e professores devem continuar recebendo as melhorias do Piso Salarial, Fundef, Fundeb, PDE, Ideb, aumentos de salários que melhoram o ensino do século XIX, mas não revolucionam, não elevam o potencial às necessidades do século XXI. Temos duas alternativas: seguir nos enganando com os jeitinhos de minúsculos avanços, ou inventarmos o novo professor, para uma nova escola. O problema é que antes de inventar o novo professor, precisamos inventar uma nova política e essa se choca com o político como ele é hoje. Por isso, antes de inventar o novo professor, precisamos inventar outro tipo de político. Artigo publicado na revista Profissão Mestre - novembro de 2008
Professor da Universidade de Brasília e senador pelo PDT/DF. Site: www.cristovam.com.br.
http://www.profissaomestre.com.br/php/verMateria.php?cod=4587, 15/10/2010
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